domingo, 23 de setembro de 2012

Pais Separados

Eu me lembro que, quando era criança e chegava a semana que antecede o dia dos pais, sempre havia aquele momento constrangedor em que uma criança perguntava se podia fazer o presente para a mãe, ou a avó. Todas as outras crianças, que tinham pai e mãe, sentiam-se um pouco culpadas. E os professores tentavam fazer parecer uma situação comum, que vinha acontecendo com cada vez mais frequência.

Acho que hoje em dia, os professores nem precisam mais fingir. Basta perguntar a qualquer criança de sua convivência se ela tem coleguinhas cujos pais não vivem mais juntos. Meu irmão, que tem dez anos, nos contou que ele é um dos únicos garotos de sua turma que tem pai e mãe ainda casados. Ele é diferente.

Não posso dizer que acho isso uma coisa tão ruim. Acho que a facilidade e rapidez das separações demonstram que muitas pessoas não mais se contentam com casamentos infelizes, de fachada, apenas porque a sociedade ditou que assim deve ser.

Também não posso deixar de revelar que fico triste. Sim, fico, porque nem todas as famílias conseguem se manter estruturadas após uma separação. Fico triste porque nascí em tempos em que se acreditava que as pessoas podiam ser felizes para sempre, apesar de algumas delas não conseguirem isso.


Tudo é evolução. A mulher não precisa do homem para sustentar os filhos e a casa. O homem não precisa da mulher para ter comida e roupa lavada. E tá muito bem assim, não é vergonha, não é fardo, é normal.

Tudo é normal.

Claro que não. Ainda existem "os mais velhos". Ainda existem os religiosos e as pessoas que simplesmente não tem o que fazer a não ser cuidar das vidas das outras mas que, apesar disso, conseguem fazer você se sentir mal por ser quem é e viver como vive.

Estamos todos num Big Brother. Eu, que não me considero uma pessoa que costuma chamar atenção para sí (a não ser pelo fato de ser algo como um gigante nesse país de pessoas pequeninas), já me deparei com pessoas que sabiam quem eu era, quem eram meus pais, minha avó, e sabiam que eu saio cedo e só volto à noite do trabalho. Me observam. Me vêem sair. Me vêem chegar. Sabem em qual casa entro e quem encontrarei lá dentro.

Não precisamos da Globo, do Pedro Bial ou das câmeras. Estamos sendo observados.

Não é síndrome de perseguição. É real, é fato. Pode reparar. Até porque, nós também sabemos demais dos outros. Coisas que não precisávamos saber. Eu sei que a garota de dezoito anos tem um filho, e que o pai do filho de vez em quando vem visitá-los. Eu sei que a mulher abatida teve dois filhos com o cunhado. Eu sei que a mulher que sai quase no mesmo horário que eu, e pega um ônibus que vai para o Centro tem marcas de facadas, que o ex-marido lhe deu de presente. Somos observados, sim. E observamos.

Meus pais são separados. Oh! Tabú!?
Hoje, não. Eu tinha quinze anos quando aconteceu e foi difícil pra caramba, foi conturbado e muito, muito triste. Mas todos sobrevivemos. Eu reparava muito na chuva, naqueles tempos.
Tenho um bom relacionamento com ambos, e espero tê-los em minha vida por muitos anos mais. Minha sorte é que são bem jovens.

Eu hoje sou uma mulher. Hoje, eu me deparo com algumas situações com as quais eles se depararam, há dez anos atrás. Vejo as complicações de dentro e de fora.

E hoje eu gosto de ver pais unidos. Gosto de ver famílias fortes, que se aturam, apesar de isso não ser fácil. Gosto de saber que os amigos estão bem amparados. Gosto de saber que os filhos dos amigos estão (ou estarão) bem amparados.

Lamento muito que não tenha dado certo para os meus pais. Mas fico feliz que cada um deles encontrou novos caminhos, bem mais fáceis de trilhar agora.

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