sábado, 3 de agosto de 2013

Ansiedade, o fantasma

Meu nome é Joyce e eu tenho 27 anos. Atualmente, tenho um emprego que, apesar de pagar pouco, só me traz alegrias. Conheci uma pessoa legal, amiga de uma amiga e estamos namorando, o que me torna uma pessoa muito feliz. Sou obesa, mas não sou considerada uma pessoa feia pela maior parte das pessoas cuja opinião pode me importar. Moro na casa da minha avó, não pagamos aluguel e vivemos de maneira humilde, porém bastante confortável.

Olhando assim, você logo vê que eu sou uma pessoa normal e feliz, sem motivos para desenvolver qualquer problema psicológico.

Infelizmente, desde pequena, eu sofro com ansiedade. Ah, ansiedade não é uma coisa boa? Por exemplo, estar ansioso pelo dia do pagamento, pra poder comprar algo legal, ou quitar uma dívida, é uma boa sensação, não é?
Claro que é, e a ansiedade, além de ser essa expectativa, também ajuda as pessoas a pensar nos detalhes importantes que precisam providenciar antes de um acontecimento. Por exemplo, você fica tão ansioso por promover a festa de quinze anos de sua filha que, um ano antes, começa a fazer uma poupança para poder pagar ao menos o aluguel do salão a vista.

Só que existem pessoas que, como eu, sentem ansiedade em níveis tão altos, que não conseguem pensar em mais nada, senão o objeto de sua expectativa. E isso causa uma avalanche de pensamentos que não se pode ordenar e que CANSAM. Além dos sintomas físicos (boca seca, mãos geladas, falta de ar, pulsação acelerada, suor frio, tremores) e da enorme sensação de angústia. Pois é, não é bolinho, não.

Dificilmente alguém que não sofra de ansiedade vai entender esse tipo de problema, e eu estou bem ciente disso. Decidi, recentemente, só conversar sobre com a Alice, minha namorada (que, por sinal, também sofre desse mal), os médicos e esse meu blog.

Há aproximadamente três semanas, fui ver um Endocrinologista. Naturalmente, ele é um médico que pode tratar meus problemas hormonais, obesidade e poderia ajudar com a ansiedade, também. O tal médico que vi não queria muito papo. Ele era prático: você é obesa? Faça a dieta dos pontos. Tem problemas hormonais? Traga-me esses exames de sangue porque, olhando, não posso saber. É ansiosa? Tome 50mg de sertralina por dia.

Eu entrei na dele. Médicos muito disputados costumam ser bons, certo? E como Alice já estava tomando sertralina e observando melhoras, fiquei bem animada.
Só que os remédios funcionam diferentemente, de pessoa para pessoa. E a sertralina me trouxe efeitos colaterais terríveis.

Em primeiro lugar, depois de cinco dias tomando o remédio corretamente, acordei SURTADA. Antes do meu horário habitual, fui despertada pelo meu cérebro com uma avalanche de pensamentos. É fato que, no final do mês, farei minha primeira viagem de avião, e isso pode causar ansiedade em qualquer pessoa. Também é fato que sou gay, e minha família não sabe disso. Ainda. Pretendo sair do armário antes de setembro acabar.

Como eu disse no início do texto, existe aquela ansiedade boa, a expectativa. E era assim que eu vinha me sentindo sobre a viagem e sobre me abrir com minha família. Sempre quis viajar de avião e, finalmente, tenho dinheiro para isso. E poder contar a verdade sobre minha opção sexual para a família é algo que vai me libertar, porque é a consciência deles que venho protegendo cada vez que escondo esse detalhe sobre minha vida.

Nos últimos três meses, vinha sendo assim.

Até que, nessa semana, tudo isso se tornou DEMAIS pra eu aguentar. Viajar sozinha? De avião, ainda por cima? Pela primeira vez? Não pode ser... Como acreditei que seria capaz disso? E depois, como vou sustentar um namoro sério e, ao mesmo tempo, esconder isso de minha família? Com quem vou ter que romper? Como viver sem minha família? Como me despedir da Alice sem ter vivido com ela tudo o que planejo viver?

Angústia e desespero tomaram conta do meu peito... e do meu fígado. Passei a manhã vomitando um líquido amarelado, característico de quem tem problemas nesse órgão. Sabia que a sertralina podia fazer isso, mas achei que podia passar ilesa por esse efeito colateral.

Tirei a manhã de folga e fui trabalhar a tarde. No finalzinho do expediente, fui atropelada por terrível dor de cabeça, que evoluiu pra tontura e mais vômitos, até chegar em casa e conseguir dormir. No dia seguinte, mais vômitos, mais angústia.

Medo de ficar assim até o dia da viagem. Medo de surtar. Medo de ter que adiantar minha revelação a família, pelo menos pra me livrar de UM problema. Medo de ter que me "livrar". Medo de ter medo. Não pude ir trabalhar. Botei na cabeça que devia ser só o fígado atacado pela sertralina, mas sabia que era  bem mais o que ela tinha atacado. Suspendi.

Mas ela desencadeou um estado de ansiedade que me acomete todas as manhãs. Ontem, resolvi enfrentar e ir trabalhar. Foi ótimo. Hoje, resolvi cantar. Antes das 7h da manhã desse sábado, meus familiares e vizinhos me ouviram cantando "Ciclo sem fim" a plenos pulmões (nem tanto, cantei mais pra mim mesma). Também foi bom.

Segundo orientação da Alice, procurei identificar como eram essas crises de ansiedade. E percebi que minhas manhãs de Agosto PODEM, talvez, ser acometidas por essa ansiedade chata. Mas ela passa. Chazinho de hortelã e cantoria.
O fígado melhorou, já comi até pizza.

Se você chegou até esse post porque sofre de ansiedade e angústia, MANTENHA A CALMA. Respire fundo, cante e, mais importante, SAIBA que existem muitas pessoas que passam pelo mesmo que você. Estamos todos unidos por um fantasma invisível que nos amedronta e tenta calar nossa felicidade, tirar as cores do nosso mundo. Não se preocupe, isso passa. Se a sertralina também não deu certo pra você, continue calmo. Assim como eu, continue procurando algo que te ajude a passar por isso. Você não precisa enfrentar isso sozinho.

2 comentários:

Tá quente aqui, né?