terça-feira, 21 de janeiro de 2014

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Seja bem vindo ao espetáculo da minha vida.

Aqui você pode ver quem sou, quem eu gostaria de ser, quem serei.
O que estou comendo, o que gostaria de comer, o que não posso mais comer.
O que acabei de ganhar, o que acabei de perder.
Onde, com quem e por que estou aqui, nesse exato lugar que estou apontando. E o que está acontecendo ao meu redor (ainda que os únicos verbos sejam "curtir" e "compartilhar").

Você está confortável? Consegui deixar bem claros os acontecimentos do dia? Você percebeu o quanto estou triste e sozinho, mas tento me passar por feliz? Você viu todas as minhas dificuldades, nos mínimos detalhes? Você lembrou de sentir inveja das minhas grandes conquistas? Eu uso uma lupa sobre elas, veja como parecem enormes!

De onde você está, aí do camarote, consegue acariciar meu ego? Incline-se um pouco e eu consigo acariciar o seu, também. Isso... É bom, não é?

Hoje pareço culto.
Ontem eu estava um pouco mais rebelde.
Planejo acordar bem eclético amanhã, começando o dia com uma imagem sensacional, que deixará bem claro que tipo de pessoa eu sou. Amanhã, claro. Hoje eu estou culto.

Estou chorando.
Agora, estou sorrindo. Você curtiu! Preciso sorrir mais.

domingo, 1 de setembro de 2013

Curitiba, Paraná

No último post, eu contei que estava em crise de ansiedade e que um dos motivos era que iria viajar sozinha pela primeira vez, de avião pela primeira vez e iria encontrar minha namorada. Isso também foi pela primeira vez.
Resultado? Deu tudo mais que certo!

Aeroporto de Congonhas, São Paulo

Meu pai, um ser iluminado e de bem com a vida, me deu carona para o aeroporto. Podemos não assumir, mas somos apenas garotinhas quando sentimos medo de algo e estamos dentro dos braços do papai. Ali, voltamos a infância e toda a segurança do mundo é encostar a cabeça naquele peito amigo.
Ele chorou, como se eu não fosse voltar no dia seguinte, mas no ano seguinte. É perfeitamente compreensível, sendo meu pai uma pessoa, assim, chorona.
Ele me pagou um café, um pão de queijo e demonstrou tolerância quando dei a entender que gosto de meninas e de meninos. Não tive coragem de contar do meu namoro, e acho que nem era mesmo o momento.

Aeroporto de São José dos Pinhais, Paraná

A viagem correu tranquila. A tripulação da GOL foi extremamente atenciosa e simpática. Trocaram meu embarque de portão uma vez, o que me fez andar léguas carregando as bolsas pesadas, mas pelo menos foi só uma troca. Meu assento era daqueles na saída de emergência e eu fiquei extremamente confortável. Eu tinha medo, por ser gordinha e bem alta, de ficar desconfortável na poltrona, mas isso foi totalmente superado com o valor de R$30,00.

No aeroporto, Alice já me esperava. Desde a porta do avião até o portão de desembarque, minha boca ficou seca, o coração acelerado, a respiração falhava. Mas não era a ansiedade como doença, era a ansiedade como expectativa. E nosso abraço, tão esperado, foi uma delícia. Que menina linda e cheirosa! Eu sei que pisei no pé dela, mas não tive voz pra pedir desculpas. Fui imediatamente tomada por uma vergonha que falava mais alto que minha vontade de dizer tantas coisas.

No ônibus para o centro, ela me deu um selinho. E nem deve saber quanta emoção eu estava sentindo, quantos pensamentos fervilharam minha cabeça com esse pequeno gesto, tão doce. E que lábios macios, foi uma surpresa tão agradável!

Curitiba, Paraná


Fazia um pouco de frio quando cheguei, mas ele foi indo embora conforme a tarde foi chegando. Não demorou muito, chegamos ao centro. Fizemos umas comprinhas e almoçamos. A essa altura, eu já sentia menos vergonha, mas ainda não conseguia tomar iniciativa para beijar minha namorada na boca, como se isso fizesse algum sentido.
Depois do almoço, fomos para a casa dela, um lugar onde me senti tão confortável que temo ter abusado da deliciosa hospitalidade. A ideia era voltarmos logo pro Centro pra passear mais, mas... eu preferi ficar em casa com ela. A companhia dela é ainda melhor do que eu esperava, e eu só queria poder ficar olhando e ouvindo e beijando essa pessoa maravilhosa que entrou na minha vida.
Preciso deixar registrado que, no bairro onde a Alice mora, os mano do gueto ligam os rádios dos carros bem altos e tocam... a música do Mario. Sério, manos nintendistas, acho que só tem em Curitiba!
Linda!



A noite, já estava marcado, fomos encontrar outros amigos nossos, que moram por lá: Anne, Dani, Naki, Ciel e Aninha. Esses dois últimos eu ainda não conhecia, mas já adotei pra minha turminha do Paraná. Fomos a um Café Colonial, e se você não é do Sul, você também não sabe o que é isso. Mas eu vou te contar: é o Paraíso.


Peguei uma comanda onde se lia "Livre". E nunca a Liberdade foi tão deliciosa...
Um buffet de sanduíches, tortas doces, tortas salgadas, bolos, pudins, quindins, brioches, croissants, pães doces, café e suco me aguardava. Tudo à vontade, quantas vezes você desejasse! Comi feito a pessoa obesa que sou, ou seja, muito. Que delícia!

Depois disso, até pensamos em ir assistir Pacific Rim, mas acredito que ia ficar muito tarde pra todos ou algo assim, porque em vez disso, fomos pro Shopping passear na Livraria Cultura (que é sempre um bom lugar, seja aqui ou no Paraná! ♥).
Demos muitas risadas, e provamos pra nós mesmos que não é preciso beber ou usar drogas pra curtir uma noite de sábado com os amigos. Ser nerd é muito legal e libertador, mas quase ninguém acredita nisso. Tudo bem, que seja só nosso esse direito!

Foi mesmo muito bom rever a Anne, ela foi a pessoa que me apresentou a Alice e, por isso, vou sempre ser grata a ela. Não é todo dia que uma amiga, por mais querida que seja, te dá o melhor presente de todos os tempos!

Na volta para casa, conversamos no ônibus sobre assuntos mais sérios, mas também demos muitas risadinhas e a expectativa crescia o tempo todo. Sim, porque, naquela noite, saía mais um episódio de Shingeki no Kiyojin, claro!
Foi maravilhoso assistir com a Alice ♥ Só é ruim que, longe dela, o anime continua legal e emocionante, mas não é mais a mesma coisa. Aliás, muita coisa não é mais a mesma sem a Alice por perto.
Eu estava tão feliz e tão empolgada, que a ansiedade resolveu dar olá e não me deixou dormir. Mas aproveitei a noite fria mesmo assim, bem como Styeven Tyler cantou "I don't wanna close my eyes, I don't wanna fall asleep, cause I'd miss you babe, and I don't wanna miss a thing!"

No domingo, nem acordamos tão tarde como a Alice planejou, mas acordamos bem felizes. Como eu iria embora no fim da tarde, ficamos em casa morgando. Assistimos um filme que simplesmente entrou para a minha lista de favoritos: RED.
A Alice escolheu mesmo a dedo, filme muito divertido e impossível, com aquele querido Bruce Willis!

Aeroporto de São José dos Pinhais, Paraná

Na ida para o aeroporto, ficamos um pouco apreensivas sobre eu perder o voo na espera por um ônibus, então tomamos um táxi. Deixa eu te dizer, esse taxista estava roxo. Sim, encontramos ele num bar, sem a menor vontade de trabalhar, mas ele fez o FAVOR (um favor que custou R$40) de nos levar ao aeroporto!
Lá, o meu amor me deu um abraço forte e disse umas palavras lindas ao meu ouvido. Enquanto eu tentava não chorar, peguei forças numa frase dela 
"Esse não é o fim, é só o começo.
Foi lindo, ela nem deve saber o quanto essa imagem se repente em minhas lembranças.

Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo

Meu voo atrasou em 1h mas felizmente deu tempo de avisar a todos que houve atraso. Meu portão de embarque nunca aparecia naquela telinha, mas a sorte é que o aeroporto de São José dos Pinhais é pequeno!
O voo foi uma delícia. A TAM também proporcionou uma viagem agradável e ainda me deram comidinhas! O que foi bom porque, uma vez passada a tristeza da despedida iminente, senti fome! Voar a noite é bom pra poder ver as milhares de luzes lá embaixo. De verdade, é uma coisa linda demais!
Queria ter escrito antes sobre a viagem, com detalhes mais frescos, mas pelo menos deixo registrado aqui. A primeira de muitas!

Obrigada Alice, por me receber, por ser adorável, cheirosa e ter essa pele incrível que me encantou por demais. Obrigada por me apresentar essa cidade linda (e realmente é limpa!) e gostosa! Obrigada por ter entrado na minha vida de uma vez por todas. ♥
chu ♥




sábado, 3 de agosto de 2013

Ansiedade, o fantasma

Meu nome é Joyce e eu tenho 27 anos. Atualmente, tenho um emprego que, apesar de pagar pouco, só me traz alegrias. Conheci uma pessoa legal, amiga de uma amiga e estamos namorando, o que me torna uma pessoa muito feliz. Sou obesa, mas não sou considerada uma pessoa feia pela maior parte das pessoas cuja opinião pode me importar. Moro na casa da minha avó, não pagamos aluguel e vivemos de maneira humilde, porém bastante confortável.

Olhando assim, você logo vê que eu sou uma pessoa normal e feliz, sem motivos para desenvolver qualquer problema psicológico.

Infelizmente, desde pequena, eu sofro com ansiedade. Ah, ansiedade não é uma coisa boa? Por exemplo, estar ansioso pelo dia do pagamento, pra poder comprar algo legal, ou quitar uma dívida, é uma boa sensação, não é?
Claro que é, e a ansiedade, além de ser essa expectativa, também ajuda as pessoas a pensar nos detalhes importantes que precisam providenciar antes de um acontecimento. Por exemplo, você fica tão ansioso por promover a festa de quinze anos de sua filha que, um ano antes, começa a fazer uma poupança para poder pagar ao menos o aluguel do salão a vista.

Só que existem pessoas que, como eu, sentem ansiedade em níveis tão altos, que não conseguem pensar em mais nada, senão o objeto de sua expectativa. E isso causa uma avalanche de pensamentos que não se pode ordenar e que CANSAM. Além dos sintomas físicos (boca seca, mãos geladas, falta de ar, pulsação acelerada, suor frio, tremores) e da enorme sensação de angústia. Pois é, não é bolinho, não.

Dificilmente alguém que não sofra de ansiedade vai entender esse tipo de problema, e eu estou bem ciente disso. Decidi, recentemente, só conversar sobre com a Alice, minha namorada (que, por sinal, também sofre desse mal), os médicos e esse meu blog.

Há aproximadamente três semanas, fui ver um Endocrinologista. Naturalmente, ele é um médico que pode tratar meus problemas hormonais, obesidade e poderia ajudar com a ansiedade, também. O tal médico que vi não queria muito papo. Ele era prático: você é obesa? Faça a dieta dos pontos. Tem problemas hormonais? Traga-me esses exames de sangue porque, olhando, não posso saber. É ansiosa? Tome 50mg de sertralina por dia.

Eu entrei na dele. Médicos muito disputados costumam ser bons, certo? E como Alice já estava tomando sertralina e observando melhoras, fiquei bem animada.
Só que os remédios funcionam diferentemente, de pessoa para pessoa. E a sertralina me trouxe efeitos colaterais terríveis.

Em primeiro lugar, depois de cinco dias tomando o remédio corretamente, acordei SURTADA. Antes do meu horário habitual, fui despertada pelo meu cérebro com uma avalanche de pensamentos. É fato que, no final do mês, farei minha primeira viagem de avião, e isso pode causar ansiedade em qualquer pessoa. Também é fato que sou gay, e minha família não sabe disso. Ainda. Pretendo sair do armário antes de setembro acabar.

Como eu disse no início do texto, existe aquela ansiedade boa, a expectativa. E era assim que eu vinha me sentindo sobre a viagem e sobre me abrir com minha família. Sempre quis viajar de avião e, finalmente, tenho dinheiro para isso. E poder contar a verdade sobre minha opção sexual para a família é algo que vai me libertar, porque é a consciência deles que venho protegendo cada vez que escondo esse detalhe sobre minha vida.

Nos últimos três meses, vinha sendo assim.

Até que, nessa semana, tudo isso se tornou DEMAIS pra eu aguentar. Viajar sozinha? De avião, ainda por cima? Pela primeira vez? Não pode ser... Como acreditei que seria capaz disso? E depois, como vou sustentar um namoro sério e, ao mesmo tempo, esconder isso de minha família? Com quem vou ter que romper? Como viver sem minha família? Como me despedir da Alice sem ter vivido com ela tudo o que planejo viver?

Angústia e desespero tomaram conta do meu peito... e do meu fígado. Passei a manhã vomitando um líquido amarelado, característico de quem tem problemas nesse órgão. Sabia que a sertralina podia fazer isso, mas achei que podia passar ilesa por esse efeito colateral.

Tirei a manhã de folga e fui trabalhar a tarde. No finalzinho do expediente, fui atropelada por terrível dor de cabeça, que evoluiu pra tontura e mais vômitos, até chegar em casa e conseguir dormir. No dia seguinte, mais vômitos, mais angústia.

Medo de ficar assim até o dia da viagem. Medo de surtar. Medo de ter que adiantar minha revelação a família, pelo menos pra me livrar de UM problema. Medo de ter que me "livrar". Medo de ter medo. Não pude ir trabalhar. Botei na cabeça que devia ser só o fígado atacado pela sertralina, mas sabia que era  bem mais o que ela tinha atacado. Suspendi.

Mas ela desencadeou um estado de ansiedade que me acomete todas as manhãs. Ontem, resolvi enfrentar e ir trabalhar. Foi ótimo. Hoje, resolvi cantar. Antes das 7h da manhã desse sábado, meus familiares e vizinhos me ouviram cantando "Ciclo sem fim" a plenos pulmões (nem tanto, cantei mais pra mim mesma). Também foi bom.

Segundo orientação da Alice, procurei identificar como eram essas crises de ansiedade. E percebi que minhas manhãs de Agosto PODEM, talvez, ser acometidas por essa ansiedade chata. Mas ela passa. Chazinho de hortelã e cantoria.
O fígado melhorou, já comi até pizza.

Se você chegou até esse post porque sofre de ansiedade e angústia, MANTENHA A CALMA. Respire fundo, cante e, mais importante, SAIBA que existem muitas pessoas que passam pelo mesmo que você. Estamos todos unidos por um fantasma invisível que nos amedronta e tenta calar nossa felicidade, tirar as cores do nosso mundo. Não se preocupe, isso passa. Se a sertralina também não deu certo pra você, continue calmo. Assim como eu, continue procurando algo que te ajude a passar por isso. Você não precisa enfrentar isso sozinho.

domingo, 28 de abril de 2013

[Conto] Augustine acorda no inferno

Estando no Inferno, é impossível sonhar. O que acontece é que, ao acordar, as sensações físicas e psicológicas se entrelaçam sem possibilidade de você jamais poder voltar a separá-las. Conforme Augustine acordava, o calor a dominou avassalador, como se o fogo tivesse substituído o ar. Como é que ela conseguia respirar?
A sensação da quente e palpável substância que agora habitava os espaços vazios do mundo onde estava, era tão castigadora, malévola e insuportável que seria melhor perder a capacidade de respirar de uma vez por todas.

Os olhos demoraram-se a abrir, mas também sofriam com a luz alaranjada aterradora que caía sobre suas finas pálpebras. Ao mesmo tempo em que abriu os olhos, os sons de pedidos por misericórdia abafaram sua audição. Gritos de uma dor lancinante, de um desespero imortal.

"O que estou fazendo aqui?"

Lembrou-se de sua casa, tão confortável. Orgulhava-se da posição das janelas, que lhe permitiam sempre uma brisa agradável, deixando a casa fresquinha durante o verão e a primavera. Lembrou-se de acordar cedo aos domingos, e observar a calma com que as cortinas brancas balançavam ao sabor do menor sopro de vento. Lembrou-se de como era bom avistar, desde o fim da rua, seu telhado marronzinho, as paredes verdes e a expectativa de um bom banho, quando vinha chegando cansada do trabalho, caminhando pela rua pacata.

E lembrou-se do demônio. O bafo quente em sua nuca. Os olhos que dançavam na escuridão.

"Eu morri?"