... ou a Joy é fanha

Quem me conhece pessoalmente deve ter notado que eu sou fanha. Certo, não é um tipo terrível de fanhice, que nem dá pra entender o que a pessoa fala. Inclusive, quem já me conhece a algum tempo, nem nota mais (assim me dizem), e já conhecí pessoas que nem notaram (só depois de eu comentar 'ah, é que eu sou fanha!').

Quando pequena, minha mãe notou o problema (era bem pior que hoje), e me levou ao médico. Eu sofreria uma cirurgia em detrimento de Adenóide. Porém, minha mãe teve medo de me deixar fazer a cirurgia (acho que eu tinha cerca de 3 a 5 anos).

Na infância, eu mal notava. Na adolescência, as pessoas todas, incluindo minha família, pediam para que eu falasse "pra fora".

Vamos pensar um pouco nisso. Como é que alguém poderia falar "pra dentro"? Porque diziam que era o que eu fazia. Mas jamais fiz isso conscientemente, e não faz o menor sentido, já que o som da nossa voz perde-se no ar, e não no interior das nossas bocas. Percebem?

Certo, a adolescência foi terrível. Como eu já tinha noção dessa falha na minha dicção, evitava falar alto e destacar minha voz. Além do incômodo de ver as pessoas repetindo o que eu falava, pra tentar me entender. Por exemplo:

Pessoa aleatória - Como é seu nome?

Eu - Joyce.

Pessoa aleatória - Joyti?

Eu - Joy-CE!

Pessoa aleatória - Ah! Joy-TE!

Eu - ...

Pessoa aleatória - Joyte?

Eu - Isso.

Eu tinha pânico de ter que falar alguma coisa por mim mesma. Escolher um prato no menú, me apresentar aos amigos e clientes do meu pai, pedir a bênção dos tios velhos... tudo era um tormento. 

Mas a idade me tornou menos fanha. Ganhei mais confiança, e passei a falar mais alto. Colocar pra FORA meus pensamentos. Sou fanha, sim. Os sons de "s" e "c" sempre saem estranhos. Mas dá pra me entender muito bem. É só articular bem os lábios, e botar pra fora minha vozinha irritante.

Pois bem. Ainda que me compreendam, é muito difícil conseguir que passe completamente despercebida a minha disfunção oral (hm?). Na hora de arrumar um emprego, atrapalha. Quando eu mesma escuto minha voz, me sinto mal. E já notei que, quando estou ansiosa, fico mais fanha.

Hoje, fui ao Otorrinolaringologista. Vinte anos depois do diagnóstico de adenóide, esse médico surge com um inovador diagnóstico: Paralisia e disfunção do lado esquerdo do Palato Duro.
Meu céu da boca só funciona do lado direito! Aparentemente, minha amígdala esquerda é espaçosa o bastante pra fazer isso. O Doutor pediu um exame, que, olhando na guia, consigo entender assim: Nasofibrolaringoscópia.
HÁ! Tem vídeos disso no Youtube. Acreditem. Enfiam uma câmera no seu nariz, e tem gente que publica isso na internet. E eu assistí, Sr. leonardonaressi!

Se for mesmo esse o diagnóstico, Paralisia, minha tia disse que eu posso fazer fisioterapia e recuperar os... movimentos? (Céu da boca se movimenta?) E então... descobrir minha voz de verdade, né? Vou poder "falar pra fora" como pessoas normais. Só o conteúdo que nunca vai ser normal. Mas isso é culpa de outro tipo de paralisia. Cerebral?