sábado, 15 de setembro de 2012

A Enxerida do Salão de Beleza

Hoje eu passei a manhã e a tarde no Salão de Beleza. Se você já foi alguma vez arrumar as madeixas num salão cheio de mulheres, você com certeza sabe do que eu vou falar:


A enxerida. 



A enxerida é uma figura clássica nos Salões de Beleza. A mera existência dela é a decoração de um dos cantos. Ela chega calada, você nem sabia que ela estava lá. Até que faz contato visual, e ela encontra a porta pra começar a te atazanar.

Ela vem de mansinho. Primeiro, uma pergunta básica, evasiva, descomprometida:

O que você vai fazer?

Não se engane, a pergunta já vem seguida de uma segunda, que é quando ela mostra a que veio:

Luzes?

Pode substituir "Luzes?" por infinitas variações. Desde "Repicar?" a "Cauterização? Relaxamento?" ou "Pintar?" Porque é nessa perguntinha que ela já começa a sugerir e expressar o que está pensando que você deveria fazer. Ela pode ser uma manicure, uma cliente ou mesmo uma pessoa que execute outra tarefa no salão, como recepção ou limpeza. Mas jamais será o profissional que você escolheu para cuidar de seu cabelo.


É verdade que o seu cabelereiro pode ser bem enxerido. Mas é uma opção de trabalho, de postura. A enxerida não tem, realmente, trabalho nenhum com você. Ela só quer mexericar na sua vida.

A enxerida de hoje era, sem maldade, uma mulher feia. Eu acredito que todos podemos ser lindos. É só ver as transformações que os programas de reality fazem, como aquele "10 anos mais jovem" ou a "Patrulha da Moda", esse tipo de coisa. Então não existe uma real feiura, existe apenas gente mal-cuidada e sem dinheiro (como eu). Que fica feia.

E essa moça era feia. O rosto todo manchado. O cabelo picotado. A voz de taquara rachada. Aquelas gordurinhas todas. E eu não pude me aprofundar em maiores detalhes como os dentes, por exemplo, porque felizmente eu precisei ficar sem óculos.



A enxerida passou comigo quase o tempo todo em que estive no salão, sofrendo dores múltiplas no cocuruto. E ela não conseguia parar de me sugerir coisas pra fazer no cabelo, porque, na cabecinha miúda dela, nossos cabelos eram iguais.

Só que não eram.

Simplesmente.

Não.

Eram.

O tempo todo ela me disse como devo lavar, secar, cortar e lamber meus fios de cabelo. Ela não me disse pra lamber, mas poderia ter dito. Tanto faz. Eu não queria a opnião dela. E a culpa disso tudo é da minha mãe, que me deu muita educação, a ponto de eu não conseguir falar: "Ô filhinha, cuida da sua vida? Tem muito o que tratar nessa sua cara horrorosa pra você perder tempo cuidando de mim. Passar bem."



Não. Diferente disso, eu simplesmente concordava com a cabeça, olhava para os cabelos das revistas, fingia curiosidade quanto aos tratamentos que ela (não) dá aos fios dela.

Eu evito salões. Não gosto, não quero gastar muito tempo da minha vida neles. Mas às vezes é um mal necessário. E as enxeridas sempre existirão. E eu sempre serei a educadinha que fala mal da dita na internet. Xinga muito no twitter.

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