Um mundo de pessoas alheias

Ás vezes, dentro do trem, eu me deparo com uma multidão de pessoas surdas.

Não surdas porque tem deficiência auditiva. Mas psicologicamente surdas, introspectas, perdidas em seus próprios mundinhos, fechadas por uma cerca invisível e inquebrável. Envoltas por suas músicas, que ecoam através dos inseparáveis fones de ouvido.

É verdade! A sensação que me dá, quando vejo tantas pessoas de olhar perdido e fone de ouvido é que estou em meio a pessoas completamente dispersas, uma presença física, mas sem existência.

Zumbís.

Um mundo inteiro de pessoas completamente alheias umas às outras. Você senta ao lado de alguém, sem se dar conta de quem é. Se lhe perguntassem 'Hoje, na sua viagem de trem de volta para casa, você veio sentado ao lado de um homem ou uma mulher?' você poderia responder 'Eu não faço a menor ideia', e jamais poderia ser tão sincero.

Não é exatamente uma crítica, é só uma observação. Eu também ando com fones, mas geralmente presto muita atenção nas pessoas ao meu redor. A não ser que eu esteja muito envolvida em algum pensamento, ideia ou lembrança.

As vezes, eu busco a realidade para fugir de pensamentos infelizes. Mas me deparo com um mundo de pessoas infelizes em pensamento.