Sobre quem somos
Todo mundo deve parar, de vez em quando, para se perguntar "Mas afinal, quem sou eu?", "Como será que as pessoas me vêem?" ou "Será que as pessoas sabem quem eu realmente sou?", dentre outras variações do tema "O que eu sou, e o que eu pareço ser?"
Na minha viagem diária, trocando de ônibus para trem, de trem para ônibus, de ônibus para casco (ou pés, como insistem em chamar minhas patas cansadas), eu tenho tempo de sobra para divagar sobre esse tipo de coisa inútil.
Uma amiga minha disse que viu, em algum lugar (não me recordo onde) uma definição ótima para aquilo que as pessoas costumam chamar de "máscaras". Na realidade, não seriam máscaras que se sobrepõem... mas cascas. Como se fôssemos um ovo, com finas cascas protegendo o interior, que contém um delicioso omelete... ou um pinto. Ou um dinossauro. Ou um ornitorrinco.
Pegando carona nessa definição, eu dividí o sujeito em 4 cascas:
1- Quem você realmente é
O interior (aquele que pode ser mera gema plus clara, ou um Tiranossauro Rex). O interior é a mistura de todas as cascas. Não a mistura física das cascas, mas a mistura da representação delas. As tentativas, as preocupações, as prioridades, os conflitos, os amores e desamores, entre milhões de outras coisas. Ou seja, a sua essência não é uma coisa só. Sua essência é justamente a mistura de todas as suas possíveis essências. Se fôssemos deixar mais conciso e clichê, seria a mistura do Bem e do Mal.
2- Quem você gostaria de ser
Certo, a primeira coisa que fazemos, a partir da nossa essência... é negá-la. Por mais seguro e auto-suficiente que seja o sujeito, ele gostaria de ser alguém. E se ele quer ser alguém, ele já deixa de ser ele mesmo. Para aquelas pessoas que afirmam coisas do tipo "Pois eu gostaria de ser quem eu realmente sou", eu diria "Então você gostaria de ser a pessoa que você tenta ser."
3- Quem você acha que é
Então, na sua tentativa incansável de ser alguém, você se decepciona, dia-a-dia, com a pessoa que você acaba por ser. Essa pessoa-que-você-acaba-por-ser, é quem você acha que é. É a imagem que você tenta criar a partir dos olhos das outras pessoas. É aquela certeza de que todo mundo te acha esquisito, todo mundo te acha lindo, todo mundo te acha inteligente, todo mundo te acha insuportável etc..
4- Quem as pessoas acham que você é
Pois é... sendo um, querendo ser outro e achando que é um terceiro... você vira um quarto: aquele que as pessoas vêem. Essa casca, na realidade, é como aquele selinho brilhante dos cartões de crédito, ou como os tazos 3D que vinham em salgadinhos. É que cada pessoa vai achar que você é de um jeito. É só imaginar uma conversa entre sua mãe e seu chefe, falando de você. E por mais que existam semelhanças entre as visões, a soma das suas particularidades te torna um resultado diferente para cada olho.
Talvez essa seja uma versão muito subjetiva do ser humano. Talvez EU funcione assim. Talvez uma das minhas cascas ( a terceira, provavelmente) pense assim. Mas isso é só uma consideração final, no meio do livro.
Sobre a memória do peixe
Um rapaz, estudante de História, trabalhou comigo por menos de dez dias, talvez. Mas as pessoas que passam por mim, geralmente, me marcam por qualquer motivo. Esse rapaz um dia me trouxe alívio extremo.
Eu tenho um peixe.
Um peixe beta.
Ele mora num aquário minúsculo.
E eu me sinto péssima por prender o bichinho desse jeito. E, um dia, eu comentei, no trabalho, sobre essa culpa. O rapaz riu e disse tranquilamente 'A memória do peixe é tão curta que nem dá tempo de ele perceber como está preso. Ele olha para um lado, e quando vira para o outro, já esqueceu para onde estava olhando.' Se for assim, para aquele peixinho, enclausurado num aquário que deve ter uns 10cm de diâmetro, o ambiente em que ele vive é o maior oceano do mundo.
Não é pra se pensar?
Eu sou um mamífero.
Uma baleia.
E eu moro num mundo minúsculo.
Só não tenho a sorte de ter a memória curta do peixe beta.
Sobre dar murros em ponta de faca
Eu acho que todo adolescente imbecil (ou seja, todo adolescente), já pensou em como seria legal ter uma banda. Eu também pensei! A princípio, eu adoraria ser a vocalista. Depois, me bastava ser backing vocal. Aí, o desejo de ser a guitarrista. Mas seria ainda mais legal ser a guitarrista, líder da banda, que em determinadas músicas troca de instrumento só pra mostrar que sabe. E lá vai guitarra pelos ares, e a estrela do rock se acabando na bateria. Daí chuta o kit, fazendo o maior barulhão, e parte pro baixo. Claro, dando uma canjinha da voz como backing vocal.
Eu já não sou mais adolescente (que fique claro que no meu contrato com o diabo existe uma cláusula sobre eu ter 25 anos para sempre). Mas, de vez em quando, eu ainda penso ‘Ah, quer saber? Bora fazer umas aulas de guitarra e montar uma banda pra tocar só as músicas que eu gosto!’
Honestamente. Eu não tenho coordenação pra instrumento.
Nenhum instrumento.
Nem um mísero pandeiro.
E a minha voz, se não é boa para falar, que dirá cantar.
Mas toda essa consideração sobre formar uma banda de rock não é para receber apoio dos amigos e familiares ‘Não, se você tem esse sonho, corra atrás!’.
Não! Não corra atrás do que não vale a pena, meus amigos! Corram atrás daquilo que vocês almejam, mas que é alcançável. Pense bem, coloque na balança. Eu, sem coordenação, pagaria rios numa escola de música, e iria demorar seis anos para tocar o Dórémifá. Mas com quatro anos numa faculdade de História, eu poderia ser professora. Sim, eu poderia.
Mesmo sendo fanha, eu acredito que conseguiria passar algum conhecimento para os meus aluninhos.
História não? Que seja! Com alguns anos de aulas, eu poderia ser piloto de helicóptero! Sim, eu poderia! Acredito em mim, eu colocaria o barato no ar, e ganharia R$3.000 por ‘corrida’. Entende o que eu digo?
Não precisa deixar de sonhar alto. Mas precisa aprender a abrir mão do que não faz sentido, do que é perda de tempo, do que não necessariamente poderia te deixar plenamente satisfeito, já que existem tantas outras coisas que, juntas ou isoladas, poderiam te fazer bem.
Aguardem por mais notícias da professora de História que faz bico como piloto de helicóptero.
P.S.: Baseada na minha consideração sobre as 4 cascas, eu iniciei um projeto de fotografia. Vou capturar algumas imagens dentro do meu próprio quarto, para mostrar algumas das minhas próprias facetas. É um projeto bem egocêntrico, mas quem sabe ele não vira o chute inicial para uma exposição de fotos de quartos alheios?
Quem quiser conferir, visite meu flickr nesse link
Ah, as máscaras. As máscaras são sempre um problema. É bem por aí mesmo, pra definir de forma bem simples. Acho que talvez exista ainda mais uma máscara. Uma máscara mais...poética, ou teatral. Essa é a que você usa de forma hipócrita e mal percebe, mas que se adapta e escolhe um dos quatro níveis de "casca" ( ou outro nível) pra conversar com cada um. Que por sinal, também está fazendo o mesmo. São máscaras necessárias (ou não), vai saber como os homens iriam interagir se vissem a essência dos outros.
ResponderExcluirAh é Joy, agora que eu vi. Você nem atualizou meu link ( claro, eu não te avisei nada) o link do blog novo é: http://dijadarkdija.blogspot.com
Ah, ps em outro coment! heuehuehua
ResponderExcluirEu falo vez por outra nessa história do máscara. Mas acho que eu trato mais dessa que eu disse que "se adapta e é uma máscara que vira várias máscaras" do que em níveis assim definidos. Vai ver é a necessidade poética de viajar um pouco mais.
Eu escrevi um comentário gigante mas o blogspot apagou.
ResponderExcluirViu resumir o que eu havia dito:
ResponderExcluirFoi o Francisco Cuoco que disse o treco das cascas. E ele me deixou feliz, porque naquele momento ele era a única pessoa no mundo que me compreendia. E isso foi lindo.
Bom, sobre as cascas eu acho que tem mais uma, a casca da pessoa que você é com cada um.
Porque com cada pessoa que nós conversamos, agimos de forma diferente, somos alguém diferente, que se adapta ao outro. Nos tornando falsos pra pqp.
Eu adorei sua visão realista da vida, tem que ser assim, pensar assim, agir assim, porque sonhos foram feitos pra se viver quando esta dormindo!!!
E o seu jeito de escrever o texto foi perfeito!
Adorei os exemplos absurdos completamente cômicos!