terça-feira, 22 de setembro de 2009

Olhos azuis como o céu


Uma senhora, viúva e sozinha passa seus dias sentada em frente á sua casa. Todos na rua já a conhecem. Dona Terezinha.
Ela não tinha muito o que fazer, e puxava conversa com qualquer morador que passava. Bem idosa, gordinha e de olhos azuis como o céu num dia de sol, cabelos cinzentos, quase que completamente brancos, acabava por possuir um estranho carisma.

Quando eu estava estudando na Consolação, passava todos os dias, duas vezes, em frente á casa dela. Notava seu desespero por uma conversa, mínima que fosse. Por mais atrasada que eu estivesse, por mais rápidos que fossem os meus passos, ela dava um jeitinho de esticar o papo.

O clima, as coisas que aconteciam na rua de baixo, as pessoas que passavam, os políticos...

Quando ela me via, de longe, já gritava: 'Oi!'
Eu achava ela meio doidinha... mas sinceramente, o carisma dela me conquistava. Minha avó, quando a via, dizia 'Ó lá sua amiga!' Eu ria e dizia 'Aquela alí é doida...'

Agora que minha prima é quem está fazendo faculdade, ela a via, todos os dias, no portão. Sempre procurando papo, sempre falando do tempo.

Ás vezes ela colocava as mãozinhas cruzadas nas costas e fazia uma caminhadinha.

Sabe, ela me lembra o que seria a Mamãe Noel, de cabelos curtos e sem óculos. Tinha um narizinho pequeno, rechonchudo e vermelho.

É duro, é muito duro, saber que uma senhora tão simpática está agora sem vida, dentro de sua casa. O corpo ferido esperando pela perícia. Rumores de que quem a assassinou foi um bandido, um pedinte, um sobrinho, um jardineiro... fala-se muito e sabe-se pouco. Eram facadas, depois virou um corte fatal no pescoço.

Estou chateada, revoltada e ainda estarrecida. Minha avó e minha prima falaram com ela na manhã de hoje, ainda. Quando poderiam imaginar o triste e repentino fim de sua vida?

Não consigo tirar o seu rostinho avoado e agitado da minha cabeça. Não éramos parentes ou amigas, apenas conhecidas. Mas ainda assim, não posso deixar de me entristecer.

Ah... Hoje é aniversário da minha avó. É o segundo ano em que esse dia fica marcado por um acontecimento que nos abala. Íamos cantar parabéns, soprar velinhas e comer um bolinho, como sempre fazemos. Íamos.

Um comentário:

  1. É foda. A vida não é justa, e sempre é mais injusta com quem não faz mal a ninguém.

    Como eu sempre digo: "Morre tanto cachorrinho de fome e tem bandido que vive à grande"

    É normal que o aniversário de sua avó tenha perdido o clima, mas dê os parabéns a ela da minha parte.

    E levanta o astral, a vida já é injusta o suficiente para todos.

    Beijo grande
    Te amo muito.

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Tá quente aqui, né?