quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sensato procura casal fugitivo

O homem passava apressado, e notou-se a brusca parada que deu, quando viu a moça recostada na soleira do portão.

- Bom dia, senhorita!

Ela demorou para sair de seus devaneios e cumprimentar o mundo real. Sua voz saiu baixa e distraída.

- Bom dia...

- Se a senhorita puder me ajudar, eu vou tomar menos de um minuto de seu tempo. Mas já estou tomando seu tempo, então vou falar logo.

A humildade do homem alarmou a garota para um possível perigo, mas algo no seu jeito lembrava alguém bondoso, quase como se já o conhecesse e até soubesse o que ele queria ali. Acenou com a cabeça, indicando que ele deveria continuar.

- Eu estou à procura do Amor. A senhorita não me interprete mal, mas será que o viu por aí?

Ela teve que rir. Foi um riso sem muita vontade, de cabeça baixa, curto. Ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha, tentando disfarçar o embaraço e a tristeza.

- Olhe... ele passou por aqui ano passado. Mas não ficou muito tempo, não. Eu até achei que ele ainda estava hospedado, mas... era só impressão. Ele já tinha ido embora, sem se despedir.

O homem tirou o chapéu e juntou-o ao peito, como quem ouve falar de quem morreu. De certa forma, era apropriado.

- Isso acontece, moça. Mas não é culpa sua. Nem dele. É que a presença dele é mais clara para algumas pessoas. Outras, querem tanto que ele esteja ali, que pensam sentí-lo pertinho, mesmo quando ele já se foi. De qualquer forma, é uma pena, não é aqui que vou achá-lo. Mas... como eu sei que ele vai voltar, vou pedir para a senhorita dar-lhe um recado. Diga que o velho Sensato o está procurando. Mas já tem anos que estou buscando... e não consigo encontrar o maldito! Ele fugiu, sabe?

- Entendo. Caso ele passe por aqui de novo, pode deixar que eu aviso. Mas seria melhor eu me casar com o senhor, assim poderia carregar a sensatez no sobrenome.

- Ai minha boa senhorita, tenho até vergonha em dizer, mas acredita que eu estou casado? E também não acho minha esposa! Suspeito que ela esteja foragida com o Amor por aí. Não queria nem perguntar, mas quando a senhorita viu o Amor, por acaso ele estava junto com a belíssima Loucura?

- Eu bem que gostaria de responder, mas... quando o Amor chegou, eu fiquei um bom tempo cega.

- Ah... era ela. Minha querida esposa. Sempre cegando as pessoas. Amor e Loucura juntos... Eu deveria saber!

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