
As trancas das portas e das janelas estavam fechadas. A luz da garagem, que dava para a rua, estava apagada. Os portões, trancados á chave também com cadeados. O pequeno portão lateral que dava para o telhado, apenas fechado, uma tranca falsa mentindo segurança. Mas de qualquer forma, era difícil chegar até ele.
Depois dele, ainda haviam grades nas janelas. O telefone fixo e o celular.
Esfregou as mãos, uma na outra, enquanto caminhava pelo longo corredor que levava aos quartos. Aquela estranha sensação de novo, como se alguém a pudesse observar, sentir seu medo no ar e atacá-la desonestamente, enquanto estava distraída. Certa vez, lera num livro sem valor, desses de auto-ajuda, que esse tipo de impressão era, de fato, quando mais sentíamos a presença do nosso Anjo da Guarda.
No que concernia a ela, seu único Anjo era a gatinha espevitada que ziquezagueava á sua frente, esperando dormir sob as cobertas e recebendo carinhos sonolentos da dona.
Ficar sozinha era o refúgio para a maioria de seus problemas. Estabelecia uma relação de segurança consigo mesma. Cuidava-se, como se cuidasse de uma outra pessoa, visando suas necessidades. Comer, tomar banho, limpar e dormir.
Mas apesar de ser como uma terapia, e de sua vida ter melhorado muito depois da decisão de mudar-se para o exterior, bem longe da família e amigos, ainda o fantasma do medo, do temido ladrão da madrugada, tirava seu sono. Fazia-a conferir cada tranca, cada passo, cada detalhe, pelo menos quatros ou cinco vezes antes de ceder ao sono. E aos pedidos de sua gatinha para que fossem dormir.
Metódica e disciplinada, requerera com um oficial da polícia francesa as regras para uma moça solteira viver sozinha, num bairro simples da periferia de Paris. Seguia todos os concelhos do policial. Inclusive aquele sobre parar de ligar durante seu expediente. Malditos franceses, sempre tão charmosos! De farda eram como bailarinos de uma suíte de Tchaichovsky. Não resistiu.
chic vc, escreve bem!
ResponderExcluirgostei *-*
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bjos