Causos da vovó #1 - A visita da D. Maria

Nessa sexta eu começo com essa "seção" de Causos da Vovó, que é uma ideia que venho martelando há algum tempo. D. Lourdes é uma pessoa privilegiada pela memoria vasta e persistente (vários terabytes). Ela tem um número infinito de historias assustadoras que aconteceram na infância dela, nas pequeninas cidades onde ela morou, em Minas Gerais, e outras que aconteceram aqui em São Paulo mesmo.

Antes de tudo, é preciso dizer que, apesar de não acreditar no sobrenatural, respeito o fato de vovó acreditar.

Conto da vovó #1 

A visita da D. Maria

D. Maria era a sogra de Tia-avó Rosarina, pessoa que apreciava abraços e cigarros. Foi vizinha e amiga de minha avó.
Os anos passaram e D. Maria ficou muito, muito doente. Ficou um bom tempo internada no Hospital Universitário, dentro do Campus da USP. Nessa época, minha avó trabalhava no COSEAS, restaurante de mal-pagos estudantes, também dentro da USP. Passou-se algum tempo sem que minha avó visitasse D. Maria em seu leito enfermo, mas não podia mais arrastar o dia em que a veria.

"Hoje eu vou, assim que sair do trabalho."

A visita foi rápida, cheia de lamentos e saudades. Quando minha avó saía do quarto, D. Maria a chamou de volta, para um último pedido:

"Posso lhe dar um abraço?"

Naturalmente, minha avó voltou, para atender tão singelo desejo. Eu me lembro bem dos abraços fortes de D. Maria. Apesar de ela ser uma senhorinha muito pequena e magra, tinha força naqueles braços!

Naquela mesma noite, infelizmente, D. Maria faleceu. Mas, segundo minha avó, aquele último abraço não foi, de fato, o último contato que tiveram. Vovó sentiu uma mão pequena, muito gelada, acariciando seu rosto enquanto dormia.

Minha mãe contou também que, ainda naquela noite, algo estranho aconteceu no quarto. Acordou durante a madrugada e viu que seu par de chinelos estava em cima da cama e, meu irmãozinho (que era um bebê de menos de um ano na época) estava sentado na cama, olhando para a porta e sorrindo. Minha mãe cutucou o marido e perguntou:

 "Você que colocou meus chinelos em cima da cama? Tá doido?"

Mas ele disse que não tinha feito isso e, pensando bem, ninguém em sã consciência o faria.

Teria sido... uma visita de D. Maria?